Com uma breve descrição do que se tratava o projeto, os nomes dos professores que dariam as aulas e uma lista de providências a tomar para o caso de querer participar da seleção. Haviam dois pormenores: os horários e o receio de não ser selecionado.
Conversei com algumas pessoas, uma delas foi a Jeni, que hoje é minha colega no grupo. Depois falei com meu chefe e averigüei a possibilidade de trocar meu horário de trabalho. Tudo certo. Era só mandar pra "eles" tudo o que pediram e esperar o resultado. Dias depois veio a entrevista com o Airton. Toda uma ansiedade! Eu havia sido selecionado e as aulas começariam dentro de pouco tempo.
No dia marcado para a entrevista acordei atrasado. Normal. Eu nasci atrasado. Peguei um ônibus e em alguns minutos eu cruzava a praça Dom Feliciano e chegava então, à Cia de Arte. Dezessete pessoas sentadas num círculo aguardavam o início das apresentações e, com algumas poucas exceções, eu nunca tivera contato com os que estavam ali. O clima de "pois é, será que chove?" tomava conta do lugar. Depois de uma rápida apresentação individual, explanação das experiências anteriores em dança e de falar das expectativas com relação ao grupo, subimos todos ao 8º andar para a primeira aula.
Eva Schul foi a primeira professora com quem tivemos contato. Manhã difícil aquela... Muitos estavam há algum tempo sem qualquer atividade, e quem dança sabe o que quer dizer retornar às aulas nessa condição. Quem não dança, imagine um tijolo tentando se fazer passar por uma tira de borracha. Agora imaginem uma aula "leve" com Eva Schul depois de 6 meses parado... Não preciso dizer que já nos exercícios respiratórios eu quase caí duro no chão. O que se seguiu foi um diário catalogar de dores intensas em partes do corpo que eu nem sabia que podiam doer. Era geral, isso me reconfortava, mas não diminuia em nada a sensação de que eu jamais sairia vivo das aulas. Nessa primeira semana perdemos duas colegas.
Bem, conseguimos sobreviver às dores.
E, nas palavras da própria Eva, nos tornamos "Outra pessoa" no final do processo. No início, estranhava a "rispidez" com que ela conduzia as aulas, mas com o tempo entendi que aquilo tinha outro nome: desafio!
Numa das manhãs, depois de trocar algumas farpas com a Eva, ela nos colocou todos sentados e contou algumas histórias de como ela passou pelas mesmas situações que nós estávamos passando. Naquele dia, todos entenderam que o paternalismo não nos ajudaria em nada, e que em lugar disso desafiar-nos era o papel dela. Para que pudéssemos evoluir. E com esse espírito, de quem está sendo constantemente desafiado, nos jogamos na nossa rotina de aulas e ensaios. Como que num transe, ouvíamos e repetíamos os mantras matinais entoados por nossos professores:
"Resgata aquela sensação, aquela cor, aquele cheiro..." - Luciane Coccaro;
"Adeeeeere ao chão, xuxu." - Jussara Miranda;
"Desçam, querendo subir." - Alexandre Ritmann;
"O braço é uma lâmina." - Fernanda Carvalho Leite;
"Nada, nunca está bom o bastante. Sempre há muito o que melhorar." - Dagmar Dornelles;
"Deixem acontecer no corpo." - Tati Rosa;
"A música tá na mente!" - Mestre Guto;
"O corpo também é uma forma de mídia." Luciana Paludo.
"Blá, blá, blá, Whiskas Sachet" à parte, em pouco tempo nós mesmos fomos conseguindo perceber as mudanças nos nossos corpos e nos corpos dos colegas. A rotina de aulas MUITO, mas muito variadas nos dava um nó na cabeça, mas ao mesmo tempo acelerava o processo de transformação, nos dava mais segurança e nos colocava em contato com uma série de propostas novas.
Uma das coisas mais bacanas de tudo isso é que além de toda a variedade de aulas, e de informações novas por conseqüência, tinhamos dentro do grupo uma diferença enorme no que diz respeito as referências corporais de cada um. Gente que veio do jazz, do ballet, do flamenco, do hip-hop entre outras referências e estilos.
Mas e aí? Como se faz pra juntar tanta gente com referências diferentes, experimentando toda uma gama de novas possibilidades e ter como resultado um trabalho de grupo homogêneo e bem resolvido? Para saber a resposta, pergunte ao Airton! Eu não faço a menor idéia de como se faz isso.
O que posso dizer é que o resultado dos nossos cinco meses de aulas, encontros e desencontros diários está sendo pra lá de satisfatório e muitíssimo divertido. É muito bom ver-se mudar. É muito bom encontrar pessoas com quem se afinar para um bom trabalho artístico e de quebra ainda fazer muitos bons amigos, destes que se leva pro resto da vida e de quem se lembra com muito carinho e apreço. Acredito que o Grupo, assim como o espetáculo, foram divisores de águas na vida artística de todos nós. Um lugar de muito aprendizado e muito trabalho.
Viva!

Postado por: Dougg
3 comentários:
é... axo q é uma boa hra pra relatos.....
me deu até vontade de escrever o "senta que lá vem historia parte Make" iauhiahiahauahhau
e o tempo "avuo", o tempo "avuo"!
idem...
q coisa... tao pouco tempo e tanta história pra contar...
Huahuahuahua
Eu conheço as aulas "leves" da Eva!
Hushuhuahuahua
Espero que tenha gostado da experiencia =)
Beijos Sah Caldas Vollbrecht =*
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