Experimente JÁ!

Se alguém me perguntasse há cinco meses atrás o que eu achava do espetáculo Folias Fellinianas eu responderia que estava morrendo de preocupação e que achava que não conseguiríamos dar conta de tudo que precisávamos terminar para montar um espetáculo de uma hora e pouco de duração.Não é que eu duvidasse das capacidades técnicas dos bailarinos(as), do nosso diretor e coreógrafo ou da produção, o problema é que estávamos no meio de uma crise criativa. Ninguém sabia se estava no caminho certo. Eram somente dúvidas, dúvidas e mais dúvidas. Aparentemente, só mesmo o Airton Tomazzoni estava conseguindo ver alguma luz no fim do túnel. Ele parecia ser o único capaz de unir de forma coerente os diversos trechos coreográficos que haviam surgido durante os meses de improvisação e criação dos próprios bailarinos(as) guiados por seus mestres. Aliás, foi o Airton que viu nestes movimentos um "quê" de Fellini. Esta visão nos ajudou a criar personagens e definir quais sequências coreográficas estariam no espetáculo e com quais intenções elas deveriam ser executadas.Do meu ponto de vista, ver filmes do diretor, pesquisar sobre a atmosfera que ele criava, sobre sua estética, sua narrativa, foi uma vela acesa no meio da escuridão. Foi como descobrir o Norte no meio de um oceano de incertezas. A partir daquele momento, consegui dar sentido para todos aqueles movimentos que surgiam nas diversas aulas, jogos e até na ida para os ensaios no trem, no ônibus, durante o almoço da família no domingo e por aí afora. Não imaginava que era tão complicado fazer o inverso do que sempre havia feito. Como é complicado criar um sentido a partir do movimento que já existia. E, ao meu ver, o grupo todo conseguiu transpor esta barreira. O processo criativo de Folias Fellinianas foi um caminho longo, tortuoso, cheio de lágrimas, suor, dores musculares, incertezas, certezas e momentos de verdadeiras torturas mentais, mas o resultado não poderia ser diferente com um grupo de pessoas tão dispostas a fazer a coisa funcionar.Os componentes do grupo não poderiam ter sido melhor escolhidos. Somos todos, além de tudo, grandes amigos agora. E isto não é demagogia. O Grupo Experimental de Dança da Cidade de Porto Alegre é formado por bailarinos(as) vindos de experiências em dança bastante diversas e de mundos muito diferentes, contudo, somos uma grande família. Uma família disposta a lutar por seus sonhos, seus ideias, sua dança. É esta vontade que nos une e é esta união que aparece em cena. Sim, nós nos divertimos muito dançando Folias Fellinianas. O clima de alegria, diversão e companheirismo existe. Não se trata de uma ilusão felliniana. Esta é a característica fundamental do nosso trabalho no palco. Acho que falo por todos quando digo que amamos dançar com estas pessoas e acreditamos muito naquilo que estamos fazendo em cena.Sem esta relação de companheirismo que se estabeleceu entre os bailarinos(as) do grupo durante os meses de aula e de convívio intenso, não teríamos sido capazes de criar a magia, a verdade e a mentira necessárias para trazer um pouco do universo dos filmes de Federico Fellini para o palco. Esta relação foi sendo construída aos poucos e tivemos muitos problemas para unir de forma coerente pessoas tão diversas, mas saímos vitoriosos desta batalha. Depois disto, nem um pé quebrado há duas semanas do espetáculo, a mudança na ordem das coreografias e no elenco desde a estréia até a versão que apresentamos na última temporada, os sapatos arrebentados, as calças que desapareceram, a criação de novos momentos coreográficos na semana de subir ao palco, nada disto abalou este grupo fantástico de pessoas. E o resultado é um espetáculo divertido, emocionante, cativante e que consegue mobilizar o público. E não digo isto porque faço parte de tudo isto. Até agora, só conseguimos ouvir elogios. O público gosta do figurino, do cenário, das coreografias, das cenas, ri das piadas, acredita nas mentiras e duvida das verdades. Parabéns a todos os envolvidos! Nós realmente somos ótimos!

Postado por: Grazi