
Foi com muito carinho que há 41 anos atrás, me tornei uma experimental - e nunca mais deixei de ser. Há 40 anos comemoramos o nosso primeiro aniversário. Era uma manha de junho de 2008, pouco sol, tempo cheirando a chuva, um pouco frio, não muito! 8º andar do prédio lá no centro, linólio úmido, o pessoal no corredor fumando um cigarro e conversndo sobre sonhos ocorridos durante a madrugada. Nessa época acreditavámos. Nossa!!! Como acreditávamos!
Éramos 13 bailarinos, 13 experimentais, porém nessa manhã estavámos em 12 pois uma das colegas começou a fazer parte das aulas mas no turno da tarde e não pode estar conosco neste manhã. Éramos chamados de experimentais, pois faziamos parte do grupo experimental apenas. Hoje percebo o quanto "apenas" nos foi muito! Éramos uma juventude entre 20 e 30 e poucos anos sedentos de conhecimento e tesouros a desvelar em nós mesmos. Acreditavamos que não só era possivel, mas também, abrimos mão, naquela época, de muita coisa para apostarmos nessa proposta de grupo. Enfrentamos olhos gordos, macumba, xabú, toda espécie de inveja e algumas adversidades fisicas entre machucados e dores em nossa lombar e cervical. Fomos apontados por alguns da própria sociedade e principlamente pela família quando ficamos pé nos nossos ideais. Foi dificil e ainda é de certa forma, mostrar as pessoas que nós apenas queriamos dançar. Que concurso em serviço público burocrático é maravilhoso, mas para os outros. Não para nós! Descobrimos que as pessoas mais próximas eram aquelas que mais desconheciam nossa condição existencial para com a dança. Mas tudo bem! Igual continuamos....aprendendo e observando, tocando e experimentando...o grupo e a vida! Me lembro do quanto acreditavamos que respirar a dança que nos tomava, era a unica maneira de apostarmos. Não tenho mais aquela velocidade na caminhada e nem a rapidez de levantar quando ao chão deito, mas tenho ainda aquela dança! Aquela dança viva aqui dentro! E ela continua viva não só pelas lembranças, mas pelo "aquilo de que sou feita".
Ah..sim! Era de manhã. Aniversário do grupo experimental. Nós, bailarinos, e o Airton. Airton querido Airton! Homem que tanto acreditou na gente, que tanto apostou e que foi extremamente importante na minha trajetória enquanto bailarina e pensadora nas relações humanas. Foi o condutor, mestre, como queiram chamar, de nossas loucuras, de nossos devaneios, de nossos desejos. Apostava neles e as vezes até os ampliava! Foi o coreógrafo não só de nossas danças mas, de nossas sensibilidades afloradas! E quando falo em sensibilidades torna-se impossivel de não registrar aqui duas pessoas que transbordavam-as. Lu Paludo e Tati Rosa. Uma mistura de generosidade com sensibilidade. Uma mistura de mestres e aprendizes eternas. Uma mistura de desejo e encantamento. A Tati é um amor bem mais antigo que trago até hj e o levarei para o resto de minhas vidas. A Lu, entrou nessa época mais ou menos, mas soube também tocar lugares muito sensiveis em mim. Professoras que só de olhar para nós já indicavam o quadril soltinho e as escápulas bailarinas. Lembro muito bem que saiamos das aulas reconhecendo nossos corpos. Elas foram as responsaveis por nossos inesqueciveis "micos" individuais, ou seja, muitas vezes, comentando com o grupo, percebíamos que caminhávamos na Andradas buscando as tais relações cintura pélvica e cintura escapular, as relações isquios - calcanhares, e até mesmo pescoço soltinho. Uma vez no onibus me peguei mexendo as escapulas, caindo a cabeça para frente e para trás, mas isso não foi o pior. O pior foi quando me dei conta que tinha colocado meus dedos indicadores nos ouvidos com a finalidade de reconhecer a primeira vértebra, deixando meu maxilar solto, já estava quase babando no banco. Lembro-me do rosto daquelas pobres pessoas que no onibus estavam e que me olhavam com ar de pena. Mas enfim, Tati Rosa e Lu Paludo, cada uma nas suas singularidades, me foram marcos nessa vida, nessa trajetória.
Alexandre, Lu Coccaro, Eva Schul, entre outros...quantas lembranças! Quantas coisas que se tornam indiscritiveis nesse momento, mas que se tornaram tão vivas aqui dentro durante todos esses anos. Penso que hoje me mexo ainda, porque um dia tive o privilégio de ser aluna dessas pessoas. Me sinto viva por ter tido eles...
Pois então, compramos uma torta! Lembro-me também que rachamos a torta e deu um valor de R$ 2,50 para cada um de nós. Cantamos parabéns e segurei meu isqueiro fazendo de conta que era a velinha do bolo. Brincamos com o merengue, tiramos fotos e damos o primiero pedaço da torta para o Airton. Ela tinha gosto de chocolate com alegria, leite condensado com satisfação do trabalho até então cumprido. Que momento importante! Inesquecivel! Afinal de conta foi o nosso primeiro aniversário.
Hoje estou com 68 anos. Realizada e prestes a me aposentar do trabalho la na Universidade. Porem, continuo dançando. Sim, ainda danço! Apesar de dançar mais na minha própria Caravela do que nos palcos dessa juventude, toda vez que penso, respiro e me mexo, choro e lembro daquela turma e me sinto profundamente feliz. Nos amamos profundamente! E para sempre...
Agora pararei de escrever e irei espera-los, pois hoje, novamente nos reencotraremos!
2 comentários:
e EU VO CHEGA COM UM QUIDIM aiuhauhaiuhauh
AHAZO nanda linnndo o texto
bá q foda pensar em quanto um ano fez diferença e mais loco ainda pensar que este um ano fez A diferença toda em nossas vidas.
porra...
mas netão tá vamo pra bagé comemora aeeeeeeeeeee!!!
CHOREI!
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