Uma espaçonave desce em Bagé. 14 Et’s saem de dentro. Locomovem-se até o Dança Bagé 6ª edição do Festival. Et’s sem uniformes padrões, sem nome de coreógrafo nas costas, sem vontade de competir e sem o mínimo desejo de levarem para seu planeta um troféu de qualquer material disponibilizado com um pouco mais de uns troucos no bolso. Sim, 14 Et’s chegam a Bagé. Não eram verdes e tampouco sustentavam olhos arregalados e antenas na cabeça, mas por outro lado, carregavam uma bóia gigante e uma mala muito estranha. As pessoas de Bagé e de outros lugares que lá estavam, olhavam para os Et’s, e os Et’s olhavam para eles. Acredito que estavam buscando algum contato, algo que pudessem dizer: Olá!
Enfim, não havendo nenhuma maneira de comunicar-se verbalmente, uma vez que as línguas eram tão diferentes, os Et’s ficaram na deles esperando a hora do contato imediato. A linguagem nessa terra permeava entre discursos de 1º, 2º e 3º lugar (e consequentemente, ultimo lugar) e 1 2 3 4 5 6 7 8 e..1 2 3 4 5 6 7 8 interagidos com movimentos mecanicamente coreográfados com a pele visível ao ser humano. A preocupação ali era ser melhor, o melhor. Os Et’s até entendiam, mas começaram a ficar mais distantes ainda.
Nossa! Como é estranho quando isso acontece. Tínhamos certeza de que se fosse para a competição não estaríamos ali. E isso não quer dizer que só iríamos por ser um dos shows da noite, não! Não iríamos pq existe em nós uma preocupação muito mais profunda do que a necessidade da criação para mostrar e neste caso, competir. Vamos mostrar por onde perpassa nossos pensamentos e desejo nada mais! Como se fosse um convite ao publico para que compartilhassem esse vulcão de coisas que vem acontecendo conosco. Ai!! Compartilhar, essa é a palavra! Mostrar um pouco do que trabalhamos e não tentar formatar um tipo de coisa qualquer que seja levado ao julgamento de melhor, pior, mais engraçadinho.
Mas então, lá estavam os 14 Et’s. Cheguei a comentar também o quanto poderíamos “interferir” nas pessoas que lá estavam (para o bem ou para o mal), uma vez que ao assistir três coreografias (nada contra mas foi o que me chamou a atenção) – dança de rua, contemporâneo (numa forma de fazer) e algum estilo que ficasse entrelaçando as crianças de borboletinhas – já tinha visto praticamente todo o festival. O que aconteceria com os Et’s quando subissem ao palco? Será que os Et’s noivos casariam? E as duas meninas Et’s que se entrelaçariam entre si? E a Et Diva que faz de dois outros, verdadeiros cachorrinhos? E a mulher Et que abusa sua mega e escrachada sensualidade ‘demodê’ juntamente com a Et pé de pato em meio a suas bolhas efêmeras de sabão? Sim!! E aquela Et que vai despindo-se em cena até nos revelar sua total masculinidade transformista, (era uma et careca)? Entre outros...me fazia essas perguntas. Bem, mas uma vez ali, vamos lá!
Esperamos até a hora de subir no palco. Na roda que antecede as apresentações, a nossa rodinha, aquela! A que os Et’s mantem um contato mais ‘próximo’ com seus deuses, criou-se uma espiral de energia incapaz de ser ceifada, e até mesmo, disseminada. Bom, a legião dos Et’s estava quase completa, faltava o chefe dessa nave, mas isso só aconteceria mais tarde. E lá foram eles, foram dançar! Na expectativa de qualquer manifestação do público ou dos próprios bailarinos que ali estavam, foram mais uma vez se diverti em cena. Foram 40 minutos aproximadamente de exposição, de troca e de convites sempre abertos ao público. Convites de: Vamos nessa! Permitimos que você dance com a gente! Ou ainda: o que te parecemos? De que é feita essa nave que veio lá de Porto Alegre e caiu aqui sem nenhuma demonstração de desejar o que todos os outros, aqui desejavam, em relação a dança?
E como eu disse lá em cima, duas desses Et’s estavam indo em direção a farmácia e trocando seus registros individuais. Na verdade, acredito que todo esse universo é de certa forma, importante. Mas penso que uma vez importante, acaba tornando-se, para alguns, sonho de realização. E isso me preocupa! Me preocupa enquanto fazedora da arte dança, que um festival se torne o desejo de realização e conquista para pessoas que pensam ou dizem pensar a dança. (Perdoem-me os adoradores de festivais, essas são minhas impressões até então) Que se torne quase que um campo de luta entre melhores e piores sob o júri de alguns. Isso determina o quanto essa dança vale? O quanto a que levou o troféu para casa é boa em relação àquela que teve mais observações e registra-se em alguma das ultimas linhas do placar? Essas são algumas perguntas que me chegaram nesse final de semana. Se valeu? Nossa! Como valeu!!! Alem de Bagé ser uma cidadezinha aconchegante, ela permitiu muito bem a estada desses et’s que lá foram. Sua nave ficou bem cuidada, seus indivíduos, bem amparados e na somatória desta breve reconhecida neste novo planetinha, Bagé, proporcionou ao grupo, mais um registro importante de seu trabalho. Este grupo experimental, realmente experimenta e deseja continuar a experimentar... que venham outros e novos festivais, outras e novas aterrizagens!
Nanda
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